terça-feira, 16 de abril de 2013

Optar pela Vida Simples!

Na contramão da sociedade contemporânea, homens e mulheres optam por uma vida mais simples. Eles garantem que são mais felizes. Conheça as histórias

Você pode ter passado a vida inteira, ou parte dela, ouvindo a expressão: tempo é dinheiro. Conhecido de perto um universo em que ter do “bom e do melhor” é sinônimo de uma vida sossegada. Também deve ter escutado, e acreditado, que comprar roupas, sapatos e supérfluos alivia o estresse, principalmente, das mulheres durante a tensão pré-menstrual (TPM). Que shopping é e será um dos melhores lazeres desta vida moderna. Agora, suponha que tudo isso virasse de cabeça para baixo. Em nome da simplicidade do ser, homens e mulheres, de idades diferentes, chacoalharam esses velhos conceitos cada vez mais impostos à sociedade e optaram, sem culpa e com leveza, por uma vida simples. Acreditam que precisam de pouco para se satisfazer e asseguram que o lucro com tudo isso não se vende nem se troca, e tem nome: felicidade.
Não se trata de um movimento, mas um fenômeno sem causa única e nenhuma regra. Essas pessoas estão, aos poucos, caminhando por conta própria em busca da simplicidade, sem fazer publicidade disso. Alguns mudaram de cidade, outros conseguiram isso morando em uma capital como Belo Horizonte. E não estão sós. A tal simplicidade já chama a atenção do mundo, já que grandes homens, que poderiam esbanjar mordomias, disseram “não” a elas e a tudo que elas remetem. O ateu José Mujica, o ex-guerrilheiro e presidente do Uruguai, por exemplo, mora em uma casa deteriorada na periferia de Montevidéu, sem empregado nenhum. Seu aparato de segurança: dois policiais à paisana estacionados em uma rua de terra.
Outro que recebeu os olhares do planeta é o papa argentino Francisco, que despertou a simpatia dos católicos e até mesmo de quem não segue a religião, por quebrar protocolos da Igreja. Sabe-se que antes de chegar ao cargo mais alto da instituição, no dia 13, quando foi escolhido como papa, ele andava de metrô e ônibus por Buenos Aires e cozinhava a própria comida. Já como líder do catolicismo, ele dispensou o carro oficial ao celebrar uma missa e caminhou pelas ruas, aproximando-se mais do povo.

BONS EXEMPLOS

Mas não é preciso ir a Roma ou ao Uruguai para conhecer pessoas que apostam nesse modo de vida. O Bem Viver conheceu bons exemplos dessa vida simples. São guerreiros que nadam contra a maré em uma sociedade que, cada vez mais, valoriza o supérfluo como a garantia para ser feliz. “Hoje, o que predomina é o consumismo mais exacerbado, mas se há grupos buscando essa simplicidade é um sintoma de que essa exaustão das buscas frenéticas acaba não levando a lugar nenhum”, comenta o psicólogo, psicanalista e doutor em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Roberto Drawin.

Certos de que há muito mais quando se tem menos, os entrevistados para esta reportagem servem como verdadeiras lições de vida. Maria Madalena Aguiar, de 66 anos, diz ser “feliz demais” em levar uma vida baseada na simplicidade e acredita, por exemplo, que está mais perto de Deus. Já Guilherme Moreira da Silva, de 56, mora em um sítio em Macacos, na Grande BH, e garante que “ser simples” traz a ele conforto, alegria, prazer e felicidade. A mesma sensação tem Priscila Maria Caliziorne Cruz, de 23, que ao optar por esse estilo de vida diz ter ampliado sua consciência, ficando mais inteira e presente na vida. “A simplicidade nos obriga a olhar para nós mesmos”, comenta o frei Jonas Nogueira da Costa, que desde menino se encantou pela vida de São Francisco de Assis e adotou a espiritualidade franciscana. Para a advogada Débora Paglioni, de 23 anos, ser simples vai muito além de ter dinheiro. “Tem a ver com bem-estar e consciência”, afirma.

SOMENTE O NECESSÁRIO

Carro, só ser for para locomoção. Telefone é para se comunicar, não precisa de touch screen nem aplicativos mirabolantes. Roupas ou sapatos novos somente quando forem de extrema necessidade, afinal, para quê mais? Comer bem não é ir a restaurante refinado, mas aquilo que é feito em casa. Ter uma vida simples passa por muitas dessas posturas, que não são regras.

Mas quem decide viver com o que é necessário nega o que hoje é tão valorizado, como a corrida disparada pelos melhores celulares, casa, carros e as mais belas joias. E acaba consciente de que o tempo e a energia investidos para a aquisição de coisas podem minguar as oportunidades de conviver com o outro, de buscar a espiritualidade, autoconhecimento e senso de comunidade. É como se essas pessoas se abrissem mais para o mundo ao seu redor e dissessem: “Desapeguei”. Talvez por isso, elas são serenas, sorridentes e leves, vivendo somente com o necessário, aquilo que para elas é essencial.

Esse desapego e vontade de viver somente com o que precisa não é algo que a humanidade conheceu hoje. O psicólogo, psicanalista e doutor em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Roberto Drawin destaca que esse comportamento é antigo e vem desde antes do cristianismo. “Vem de uma sabedoria grega. Não é só no sentido de não ter bens materiais, mas não transformá-los em uma tirania.” Ele conta que existia uma corrente da filosofia grega, o chamado estoicismo, que mostrava que o homem só atinge a felicidade se ele for livre, ao se livrar das dependências dos bens materiais. “Isso foi seguido tanto por um escravo quanto pelo imperador.”

De tanto desapegar desses bens, Guilherme Moreira da Silva, de 56 anos, é chamado de Mazzaropi pelos amigos, em alusão ao cineasta, ator de rádio, TV, de circo, cantor e diretor Amácio Mazzaropi, que, mesmo rico, foi conhecido como o gênio da simplicidade. Ele marcou a história do cinema nacional ao mostrar personagens simples e uma linguagem bem próxima do povo. Guilherme não optou pela arte. Desde menino, sofria de bronquite e a medicina não lhe dava esperança de cura. Por meio de uma vida que ele mesmo chama de alternativa, conseguiu se livrar da doença, desafiando até o diagnóstico médico.

Nascido e criado em Belo Horizonte, há 30 anos Guilherme se mudou para São Sebastião das Águas Claras, mais conhecido como Macacos, na Grande BH. Formado em arquitetura e especializado em paisagismo, ele morou na Espanha por um ano. Mas foi em Macacos, em um sítio em meio à natureza, que se encontrou. Por 15 anos, morou ali sem energia elétrica. Ele diz até hoje não comprar roupas e só usar aquelas que seus irmãos lhe dão. “Não atribuo grandes valores ao materialismo. Tenho uma caminhonete porque preciso dela para trabalhar.”

Guilherme hoje mexe com produtos naturais, vende pães integrais e come tudo o que planta. Onde mora não há internet. “A minha bronquite que me incomodava muito. Queria uma vida saudável. Esse modelo que adotei tem raízes profundas em querer sobreviver e gostar da vida. Chegou o momento em que o mais importante era a qualidade do ar que respirava , o contato com a terra e a comida que comia.”
Em uma casa de alvenaria sem luxos nem precariedade, Guilherme tem uma televisão, que de vez em quando é ligada. “A vida pode ser muito mais simples. A busca por ter tudo, trocar o velho pelo novo, traz desconforto. A sociedade nunca está satisfeita.” Para ele, a vida no campo traz essa simplicidade, alegria, conforto e prazer.

ESFORÇO

Professor do curso de ciências sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), Ricardo Ferreira Ribeiro diz que hoje as pessoas fazem um esforço danado para ter renda e, por outro lado, geram um estresse, acúmulo de trabalho e problemas de saúde. “A opção pela vida simples tem sido mais singela, há menos requinte, mas exige menos esforços.” Ele lembra que os hippies chegaram a optar por esse modo de vida, como crítica ao consumismo. “Esse modo de viver aproxima mais as pessoas, cria-se uma empatia.”
Para o frei Jonas Nogueira da Costa, de 37, viver com pouco se aprende ao estar perto daqueles que têm poucas condições financeiras. De família simples e católica, ele sempre participou das atividades da igreja de Três Rios, sua cidade natal, no interior do Rio de Janeiro, o que despertou sua vontade de ser padre. Em 1995, entrou para a Ordem dos Frades Menores, motivado pelo exemplo de São Francisco de Assis, que dedicou a vida à simplicidade e aos pobres. “A proposta de simplicidade, de viver como irmão e ter uma vida de oração são pilares que me encantaram”, diz. A simplicidade para Jonas é entendida como partilha. “Você não pode chegar a Deus com títulos acadêmicos, roupas e outros. Deus é simples.”
O frei conta que a principal mudança que sentiu na sua opção devida foi no conceito de posse. “As coisas que eram da minha família pertenciam a eles e a mim. Hoje, tenho o conceito do nosso.” Suas posses, segundo ele, são os livros. Não se importa com roupas e compra só o necessário. “A simplicidade tem o campo prático e político. No primeiro, é o contato com as pessoas mais simples e afetos com as plantas e animais. No segundo, é a denúncia do consumismo que gera frustrações.”
Ele ensina que a vida simples permite o contato consigo mesmo. “Nos obriga a olhar para nós mesmos e ao nos depararmos com o ser humano que somos nos libertamos das grandes tentações do consumismo.” O grande ganho para o frei é a felicidade como comunhão, prazer nas pequenas coisas , estar bem consigo mesmo. “Temos que fazer o que gostamos. A minha opção me faz bem, humano e feliz.”
Para o frei, quem segue a vida baseada na simplicidade, independentemente da religião, tem que aprender a escutar os pobres materialmente e socialmente. “Eles são os nossos mestres. Há muita coisa que dissemos que são fundamentais para nós, e vemos que outras pessoas conseguem viver sem aquilo. Às vezes temos tudo e não abrimos mão de nada, e esse pobre consegue sorrir e falar de Deus. Por trás disso, há uma sabedoria. Não há uma receita pronta para essa vida simples. Cada um tem que fazer a própria síntese”, aconselha.

Estilo de vidas

Existe um movimento chamado simplicidade voluntária, que é um estilo de vida no qual os indivíduos conscientemente escolhem minimizar a preocupação com o “quanto mais melhor”, em termos de riqueza e consumo. Seus adeptos escolhem uma vida simples por diferentes razões, que podem estar ligadas a espiritualidade, saúde, qualidade de vida e do tempo passado com família e amigos, redução do estresse, preservação do meio ambiente, justiça social ou anticonsumismo. Algumas pessoas agem conscientemente para reduzir as suas necessidades de comprar serviços e bens, e, por extensão, reduzir também a necessidade de vender o seu tempo. Alguns usarão as horas a mais para ajudar os seus familiares ou a sociedade, ou sendo voluntário em alguma atividade.

Compra consciente

Não é preciso sair da capital ou se dedicar integralmente ao sacerdócio para ter uma vida simples. Essa opção de vida, apesar de a luta ser ainda maior, é bem possível na cidade grande, mesmo com as tentações do consumo e seus exageros bem próximos. A simplicidade, muitas vezes, está na essência da alma e em atitudes conscientes, e não é preciso radicalismo para chegar até ela. O professor do curso de ciências sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas) Ricardo Ferreira Ribeiro diz que essa opção de vida pode ser uma certa crítica aos valores ligados à ostentação e ao padrão de vida de pessoas que não conseguem abrir mão dos bens materiais. “A gente acaba consumindo muitas coisas, para quê? Qual a finalidade desse bem que se adquire?”, provoca.
Foram essas as perguntas que motivaram a psicóloga Marina Paula Silva Viana, de 28 anos, a enfrentar um desafio: um ano sem compras. De junho de 2011 até junho de 2012, ela não comprou nada de supérfluo e criou um blog na internet relatando sua experiência durante esse período. A página levou o nome do desafio, Um Ano sem Compras. Mineira de Belo Horizonte, a jovem mora desde 2008 em Curitiba e achava que a proposta seria difícil. “O mais complicado é conter o primeiro impulso. Mas vi que isso é bem possível.” O dinheiro que usava para comprar roupas, bolsas, calçados e cosméticos foi gasto em lazer. “Sempre gostei dessa opção de vida, e queria fazer essa experiência. Você percebe que tem outras prioridades na vida. Passei a fazer mais programas ao ar livre, a aproveitar atividades intelectualizadas. Quando estamos imersos no consumo, deixamos o que nos dá prazer em segundo plano. Passada essa experiência, hoje compro bem menos e me foquei no que é essencial para mim.”
Como psicóloga, Marina conta que muitos pacientes trazem para o consultório frustrações vindas do consumo. “As pessoas estão consumindo mais. E isso acaba tendo uma função psicológica. Ela acabam acreditando que a personalidade está ligada ao que consomem.” Formada em teatro, produtora do curso de educação gaia em BH e estudante de letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Priscila Maria Caliziorne Cruz, de 23, diz que a vida simples vem dos pilares que recebeu em casa e das suas buscas e anseios. “São escolhas diárias. Encontrei em BH, no meio urbano, uma alternativa mais simples para viver.”
Ela conta que o segredo dessa opção está na consciência do que se busca. “Sabemos que ter um telefone é importante para atender a necessidade. Mas nem sempre essa necessidade por um produto acompanha moda e o que está no mercado.” Há 10 anos, a jovem não entra em shopping, pois, segundo ela, é um ambiente que a incomoda, principalmente pelo objetivo daqueles que estão ali e os tipos de relações estabelecidas. “Participo de um encontro anual de trocas de roupas. Para a minha alimentação, participo de redes de agricultura urbana, que são alimentos produzidos na cidade. Compramos diretamente dos produtores, sai mais barato e não acumula tanto valores.”
A maior preocupação de Priscila é com o meio ambiente. Ela procura ter atitudes sustentáveis, como reciclagem de lixo, usar carona ou transporte público. “Essa opção de vida me faz sentir em harmonia comigo mesma. Quando fiz essa escolha, é como se tivesse responsabilidade com as pessoas ao meu redor.” Ela diz que o encontro com esse modo de vida foi motivado por uma busca de vida saudável, da saúde do corpo e da mente . “Nunca fiz escolhas motivada pelo financeiro.”

BENS MATERIAIS

Por mais que as quatro filhas insistam, Maria Madalena Aguiar, de 66 anos, fica bons anos sem comprar roupas. Prefere consertar as que tem e não se importa com a idade delas. Um vestido e um tamanco já estão de bom tamanho. Mesmo morando na capital, a essência, adquirida na infância, na roça e durante os três anos que morou em um convento em São Paulo, ela mantém intacta e com orgulho. Diz já ter conhecido muitas pessoas que ostentam bens materiais. “É de dar dó”, comenta.
Certo dia, uma de suas filhas a chamou para sair. Ela logo pegou a bolsa de pano e disse estar pronta para acompanhá-la. A filha sugeriu que mudasse de roupa. “Você quer o que visto ou a minha companhia?”, respondeu Madalena. Apaixonada pelas poesias que cria, ela conta que prefere andar de ônibus ou a pé a ir de carro. “Temos pernas é para andar.” Compras com ela, só o essencial. O seu lazer é mexer na terra, com as plantas e aprender com elas. “A vida simples é uma sabedoria”, avisa. Para ela, ajudar o outro a ter um coração bom são as grandes riquezas do ser humano.
Madalena conta a lenda que lhe serve de inspiração. “Uma vez, um turista viajou para conhecer um grande sábio. Quando chegou, disse a ele que queria conhecer seus móveis. O sábio, muito tranquilo, mostrou que só tinha uma cama e uma cadeira e o convidou a entrar. O homem não aceitou, disse estar só de passagem. O sábio respondeu: ‘Eu também’.” Para essa senhora, a história aponta o que devemos pensar antes dos bens materiais serem nossos donos. “Caixão não tem gaveta. Estamos aqui só de passagem.” (LE)
Viver com o essencial

Este mês, o New York Times publicou um artigo sobre a vida de Graham Hill, que vive em um estúdio de 420 metros quadrados. Ele tem seis camisas, 10 tigelas rasas que usa para saladas e pratos principais. Não tem um único CD ou DVD. Era rico, tinha uma casa gigantesca e cheia de coisas – eletrônicos , carros e eletrodomésticos. “De uma certa forma, essas coisas acabaram me consumindo”, disse na entrevista. Em 1998, em Seattle, vendeu sua empresa de consultoria de internet, Sitewerks, por muito dinheiro e passou a comprar muito. Entre as compras, um Volvo preto turbinado. Mas tudo isso passou a incomodá-lo e a ficar sem graça. E ele decidiu viver somente com o essencial.

Luciane Evans, Estado de Minas
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/04/homens-e-mulheres-que-optaram-por-uma-vida-simples.html

domingo, 7 de abril de 2013

SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E ACERVOS DIGITAIS DE CULTURA.

‘Seminário Internacional: Sistemas de Informação e Acervos Digitais de Cultura’ propôs reunir gestores públicos e privados, pesquisadores e comunidade acadêmica interessados em sistemas de informações culturais com interfaces colaborativas e arranjos de integração para acervos digitais de bibliotecas, arquivos e museus. O evento ocorreu nos dias 11, 12 e 13 de março de 2013, no auditório da Biblioteca Brasiliana-USP, localizado no Campus da Universidade de São Paulo – USP. Seguem vídeos da fala dos participantes. 

Porque amar raso se você pode e de ir adiante?


I
As religiões, na contemporaneidade, não estão sensibilizadas o suficiente para pluralidade humana possível neste planeta natural e cultural. Ao menor sinal de descontrole nas rédeas do poder religioso-comunitário, evoca-se o apocalipse, isto é, o “suicídio” coletivo de todos e todas. Cai-se na barbárie do sangue jorrando e das perseguições. Os líderes religiosos ambicionam ser um dos “anjos” com trombetas. Pré-disposição à destruição, combina bastante com o Capitalismo. E se for filmado, então! Por fim, Dominação econômica e ditadura midiática-fetichista formam um colchão para a proliferação de pessimistas apocalípticos. Toda e qualquer revolução é desviante, seja na dimensão individual ou coletiva. Qualquer ação não prescrita bem anteriormente tem efeito anti-biblico.

II
Não há nada de bom na vida, apenas pecados a desviar. Se algo bom existir, não será neste mundo. Todas as delícias da vida são apenas ironias divinas. Apenas amor raso, disciplina dos sentidos, e submissão. Não ao próprio Deus ou Deuses, mas a homens que se supõem mediadores. O Reino dos Céus na Terra, isto é, aquilo que virá, tornou-se aquilo que foi, pois válido apenas o que impresso em livros sagrados escritos por homens. Nas igrejas contemporâneas, não existe futuro. Há apenas passado. O presente é expiação de pecados. Salvação individual em meio ao sentimento comunitário induzido por lideranças, esses novos monarquistas a esperarem o beijo de seus súditos nos seus anéis. Enriquecer individualmente, pois é a única recompensa divina para esta vida terrena. TVs 3D para melhor orar. Ou, então, pregar a pobreza, enquanto os líderes monarquistas defecam ouro.

III
É fundamental o papel do Capitalismo e da Ditadura Midiática-Fetichista, pois eles aceleram o desenvolvimento da submissão – através da flexibilização e relativização de direitos básicos sociais, econômicos e culturais– e da proliferação de estereótipos rasos do Outro numa mídia dita global, mas provinciana e antropocêntrica, pois oligárquica, que propõe a redução da reflexão e do olhar crítico. É o pano de fundo perfeito para que o pessimismo do “aqui e agora neste mundo” verta como temporal caído céu.  E proteger-se do Outro, porque, num mundo assim, o problema é a existência do Outro, que também pode ser rotulado de infiel ou pecador. Ou a sua conversão (e constante vigilância posterior) ou sua perseguição.

IV
Como acreditar em instituições humanas que ao sinal da diferença ou de problemas estruturais do planeta correm para um salão orar, a bater no peito pelo final dos tempos? O fim é inevitável e por isso mesmo, vamos comprar automóveis! Nunca existiram tantos recursos – dinheiro, inteligência, tecnologia, em especial – disponíveis para transformar o mundo conforme utopias mais progressistas e espiritualizadas. Mas utopia é amante do Diabo. E a espiritualidade, essa consciência mágica de se sentir honrado pelas “dores e delícias” da vida, não cabe nas vontades monárquicas dos líderes ditos religiosos.  Num mundo assim, a carga religiosa é a fluoxetina das massas, e a cocaína das lideranças. Enquanto limita a Ética ao que dizem as páginas de textos “sagrados” e não aquilo que uma pessoa poderia produzir na condição de reflexão e práxis de mundo, reforçando uma lógica chapada, suas lideranças, estimuladas pelo pano de fundo da realidade capitalista midiática, erguem ou  marcam muros.  O universo cosmopolita espiritualizado do ecumênico é negado. Muros para dividir, muros para aprisionar.

V
A Barbárie sempre flertou com o Apocalipse. Temos que romper com isso.  Temos que romper com este imperativo religioso de que a libertação se dá na dor e na submissão. Temos que mostrar possíveis, a existência de pessoas espiritualizadas, éticas, abandonando pretensões imperialistas, de imposição de um ponto de visto histórico do passado. Não é preciso um mundo Ateu, assim, à toa com o que não é Racional. Nem é preciso fechar-se em verdades petrificadas. O que é profano pecado, em dias atuais de superabundância? A desigualdade na distribuição das riquezas ao nosso redor ou a união civil entre pessoas do mesmo sexo? As famílias estão em crise por causa de minorias sociais ou em razão dela própria ser histórica? Até duzentos anos atrás, as crianças não existiam e as relações eram estabelecidas a partir de influencias políticas, econômicas e militares ou dotes. Hoje, mudou. Foi para pior? Não estaríamos no meio do furação da história observando essas melhorias serem resignificadas, com a ampliação positiva do que é uma família? Ou é tudo e apenas sangue? Quer dizer, os piores canalhas da história tinham razão, então?

VI
Porque amar raso se você pode e de ir adiante? Vivas aos espiritualizados, humanista e religiosos que brindam a vida! Esta vida! Seja amor, não rancor. Em última instância, quem julga "é o céu", não os terrenos. Estes, pré-julgam. Preconceito.

VII
Como republicano, não defenderei privilégios, mas sim, direitos. Inclusive e especialmente os relacionados a crenças religiosas. Mas não sou republicano tolo, e não acredito no Todo. Ninguém fala por todos. E quando uma força religiosa for imperialista, e advogar a fala por todos, ou defender a implantação de um reino dos céus na Terra, edificados a partir de páginas de sangue e escravidão, renegando Direitos e implantando privilégios e exceções, estarei agindo em torno do bom senso, tentando diálogos, refletindo.  É um papel histórico de minha parte. Um Estado Laico não se choca com a pluralidade religiosa. Já o oposto, é possível?

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Aproveite e assista a animação: A Loja dos Suicídios.
Gênero: Animação, Musical, Comédia
Diretor: Patrice Leconte
Duração: 79 minutos
Ano de Lançamento: 2012
País de Origem: França, Canadá, Bélgica
Idioma do Áudio: Francês

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Seleção de trabalhos de Arte/Educação para publicação em revista


Está disponível até 20 de abril de 2013 a submissão de trabalhos para o segundo número de Arte/Educação on line, que será publicado em julho de 2013. 
Os autores devem submeter trabalhos nas modalidades Artigo, Ensaio, Narrativa, Entrevista ou Resenha, em conformidade com os critérios estabelecidos nas Normas Editoriais da revista.

Os trabalhos devem ser enviados para o e-mail arte-educacao_online@faeb.com.br.


http://www.casis.com.br/ojs/index.php/arteeducacao/announcement/view/2

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Política Cultural pelos jornais


Nome próprio da cultura (Artigo Folha)
Vladimir Safatle

No Brasil, os debates sobre ação cultural normalmente pecam pelo medo de afirmar as exigências da cultura em voz alta.
De um lado, há aqueles para quem os investimentos em cultura se justificam por permitir o desenvolvimento da "economia criativa". Nessa visão, cultura é bom porque gera empregos, turismo e desenvolvimento econômico.
De outro, há os que veem a cultura como ponta de lança de serviços de assistência e integração social. Mais música e menos violência --é o que alguns gostam de dizer, como se houvesse alguma forma de relação direita possível. O que abre um perigoso flanco: se o índice de violência não baixar, o investimento em música parece perder o sentido.
Por fim, há os que compreendem cultura como um mero complemento para a educação. Todas as ações culturais devem estar integradas em um projeto educacional pedagógico.
Há de lembrar a tais pes- soas que a cultura ocidental construiu seu lugar exatamente por meio da recusa dessas três tutelas. Platão e Rousseau, por mais que enunciassem pensamentos distintos, tinham ao menos a similitude de ver a arte como uma pedagogia para o bem-viver em sociedade. Não por outra razão, um expulsou os artistas de sua cidade ideal e o outro brigava para não abrirem um teatro em Genebra. Afinal, Dostoiévski, Francis Bacon, John Cage e Paul Celan não são exatamente companheiros na arte da descoberta do bem-viver. A arte serve mais para desestabilizar visões de mundo do que para referendá-las.
Já a subsunção das discussões culturais aos imperativos da nova "economia criativa" é só mais uma maneira de justificar a lógica de mercador de certos administradores culturais. Assim, eles podem financiar o que circula mais, já que a alta circulação é o critério fundamental para a avaliação dos processos de produção econômica.
Como Britney Spears sempre circulará mais do que Anton Webern, fica justificada a transformação do Estado em departamento de desenvolvimento de subprodutos culturais para a indústria. Daqui a pouco, teremos baile funk pago pela Secretaria da Cultura (ainda por cima, com a desculpa de que se trata de manifestação popular).
Mas o Brasil mereceria um debate cultural que não precisasse de muletas para se justificar e que não tentasse perpetuar falsos dilemas --como cultura elitista x cultura popular, cultura dos países dominantes x cultura da periferia e outros absurdos do gênero.
Aqueles que acreditam que a cultura serve, sobretudo, para desestabilizar visões de mundo e compreender a força crítica das formas estéticas deveriam parar de falar em voz baixa.
VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/1114102-nome-proprio-da-cultura.shtml

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O Abacaxi da Cultura (Estadão)
Ivan Marsiglia, de O Estado de S. Paulo

Com a sua peculiar estridência, a assim chamada "nova classe média" ocupa, além de aeroportos e manchetes de economia, o centro da cena cultural brasileira. É o carnaval do Ai se eu te Pego, do tchererê-tche-tchê, da Beyoncé paraense Gaby Amarantos, da redenção do funk carioca e também da tragédia da Gurizada Fandangueira. Nessa explosão de sentidos figurados e literais, que marcas deixarão impressas na cultura nacional os cerca de 40 milhões de "ex-pobres" - na jocosa definição de MC Papo - que ascenderam ao mercado na última década?
Na opinião do antropólogo Hermano Vianna, antes de mais nada vale a pena remeter para a discussão da cultura a crítica feita pelo ex-presidente FHC ao termo nova classe média. "Há de tudo nela: pastores de igrejas evangélicas, DJs de tecnobrega, militantes de coletivos periféricos, donos de lan houses", diz o irmão mais velho do guitarrista Herbert Vianna, dos Paralamas, e um dos mais importantes pesquisadores musicais do País. "O rótulo impreciso tenta dar conta de uma grande transformação da sociedade brasileira ainda não analisada devidamente."
Aos que denunciam um suposto empobrecimento geral das manifestações artísticas no País, o doutor em antropologia social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - que também é consultor do programa Esquenta!, de Regina Casé, na Globo -, lança mão de uma metáfora, a do disco voador: trata-se de um olhar que sobrevoa o País sem conexão com o mundo de baixo que agora penetra a fuselagem da nave, incomodando seus finos tripulantes. E reedita, em tom de provocação, a enfática defesa que faz há anos da música mais popular dos morros cariocas. "Encontro no funk muitos elementos que o tornam superior a uma sub-MPB que tentam me empurrar como música de qualidade."
Na última década, o Brasil vive a ascensão de uma nova classe média e a chamada inclusão pelo consumo. De que forma essa transformação se expressa no âmbito da cultura?
Em seu artigo de domingo passado no Estado, Fernando Henrique Cardoso escreveu que "a dissolução do conceito de classes em 'categorias de renda' chamadas classes A, B, C, D, ou nesta 'nova classe média', dificilmente se sustenta teoricamente". Falou mais como sociólogo do que como ex-presidente ou político da oposição. Eu, como antropólogo, orientando de Gilberto Velho - por sua vez orientando de Ruth Cardoso, corajosa o suficiente para, durante a ditadura militar, aceitar que Gilberto fizesse tese sobre o consumo de drogas entre jovens da velha classe média -, posso afirmar que tal dissolução também não se sustenta culturalmente. Quando dizemos "nova classe média" estamos pensando num grupo extremamente heterogêneo em termos de estilos de vida e visões de mundo. Há de tudo nela: pastores de igrejas evangélicas, DJs de tecnobrega, militantes de coletivos periféricos, donos de lan houses, etc. O rótulo impreciso tenta dar conta de uma grande transformação da sociedade brasileira, ainda não analisada devidamente.
Em que termos falta analisá-la? 
Ela não é apenas uma transformação econômica. Aconteceu ao mesmo tempo em que outras mudanças profundas se processavam. Na cultura, as consequências da revolução digital foram imediatas. O modelo de negócios da "indústria cultural", que funciona na base do broadcast, poucos-para-muitos, ainda não conseguiu se adaptar ao mundo das redes, muitos-para-muitos. Por exemplo, o mundo das gravadoras de discos, que comandava o mercado mundial de música popular, praticamente desmoronou. Milhares de pequenos estúdios surgiram em todas as periferias. Seus produtos são distribuídos via internet e fazem sucesso sem precisar de rádio, imprensa, TV. Em 2006, quando escrevi o texto para lançamento do programa Central da Periferia, na Globo, deixei claro: somos a mídia de massa correndo atrás da música mais popular nas ruas brasileiras que nunca esteve na TV antes. Descrevi a grande mídia como um disco voador, sobrevoando o País, sem conexão com o mundo "de baixo". De lá para cá, nada mudou tanto assim: apenas o barulho de fora (Ai se eu te Pego), amplificado por milhões de alto-falantes de som automotivo ou de celulares ligados em redes sociais, já penetra a fuselagem da nave, incomodando seus finos tripulantes.
O sr. quer dizer que há um incômodo com a democratização da cultura? 
O melhor texto sobre isso é o do Otávio Velho dizendo que não há mais grotões no Brasil. Ele criticava a opinião de que os votos que elegeram Lula vinham de grotões ignorantes e sem conexão com a realidade contemporânea. Quem não viaja pelo interior não deve se dar conta disso. Quando piso em qualquer biboca, longe das capitais, logo encontro grupos articuladíssimos, tocando projetos sociais e culturais muitas vezes com repercussão internacional. E há também uma politização geral nesse interior que não é só de esquerda, e quase sempre não tem lugar definido no espectro ideológico tradicional. Ela é alternativa à vida político-partidária, parte do "disco voador", e produziu importantes organizações como a Cufa (Central Única de Favelas) e o AfroReggae. O pop periférico e a politização cultural periférica - que não mantêm relações harmoniosas entre si - são as principais novidades culturais brasileiras das duas últimas décadas.
E as políticas de cultura do País, estão dando o melhor a essa população ou apenas reforçando estereótipos?
Políticas de cultura não devem "dar" nada para a população. Isso se parece com promessa velha de político acostumado ao ar condicionado no disco voador: "Vou levar cultura para as favelas". A imagem tradicional era a favela como vazio cultural que devia ser iluminada com arte de fora. Os próprios favelados já deram a resposta: "Qual é, mané, o que não falta aqui é cultura". As políticas de cultura, então, precisam trabalhar junto com o que já acontece em cada lugar, possibilitando uma melhor circulação de informações e contribuindo para ampliações de horizontes de maneiras de fazer arte, que foram criadas muitas vezes aos trancos e barrancos (ou dentro de barracos). Outro dia vi um censo cultural realizado com jovens de áreas "ex-pobres" - expressão inventada pelo MC Papo, rei do reggaeton mineiro - do Rio revelando uma maioria absoluta que nunca tinha ido a um show musical. Conheço bem as áreas onde a pesquisa foi aplicada e sei que essa rapaziada frequenta baile funk com muitas apresentações ao vivo. Aquilo não é considerado show musical? Por quem, o pesquisador ou o pesquisado? Show musical é o quê? Só o que acontece no Citibank Hall?
O sr. foi um defensor dos CEUs e dos Telecentros da então prefeita Marta Suplicy. O que achou do Vale Cultura, apresentado pela agora ministra?
O Vale Cultura não foi inventado pelo ministério Marta. Tem longa história de formulação e debate, anterior até à data de 2009, quando foi para o Congresso. Na época, o então ministro Juca Ferreira já precisou atacar a opinião de que o dinheiro "não deveria ser usado em baile funk". Juca seguiu o pensamento de Gilberto Gil, que numa de suas melhores frases como ministro disse: "Cultura ruim também é cultura". É isso, não tenho o que acrescentar porque sei que Gil e Juca sabem que funk não é cultura ruim. Gil até já cantou, em declaração de amor para o Rio, "quero ser teu funk".
Então o sr. concorda com a resposta da ministra aos críticos do Vale Cultura: 'Se quiser comprar revista de quinta categoria, pode' e 'compra porcaria quem quiser'?
É engraçado: quando a política deixa o mercado decidir como o incentivo vai ser usado, é acusada de sustentar cultura de mercado com dinheiro público. Quando quer corrigir "distorções do mercado", como o fato de a região Sudeste acabar com a maior porcentagem do dinheiro da Lei Rouanet, é acusada de dirigismo cultural. Parece que todos preferem o imobilismo - que o ministério não proponha política nenhuma. Não morro de amores pelo Vale Cultura, mas encaro sua implementação como uma experiência. Por que, de antemão, achar que ele vai ser usado só em porcaria? Essa é a imagem que temos do tal "povo", coitadinho, que precisa de nossa orientação para saber o que é bom. E se for assim, por que esses críticos não partem para a porta das fábricas para ensinar ao povo o que é bom, com serviço de van grátis direto para a Sala São Paulo?
A ida de Juca Ferreira, um baiano, para a Secretaria de Cultura paulistana de Fernando Haddad, lhe agradou? 
Confesso que fiquei surpreso. Estamos acostumados a pensar a política estadual ou municipal de forma paroquial, como se só os locais pudessem lidar com realidades locais. Então foi surpresa boa: uma pessoa de fora pode descobrir maneiras novas para resolver velhos problemas já naturalizados pelos nativos. Mesmo quando entende as coisas de forma errada. Lembro a descoberta do tropicalismo pelos críticos estrangeiros nos anos 1990: eles falaram muita besteira, não captavam as sutilezas do nosso contexto, terrivelmente complexo para gringos. Mas aquilo me fez entender nosso passado musical com novos olhos, e tudo ficou ainda mais interessante. Espero que o mesmo aconteça com o diálogo entre o baiano Juca e os paulistanos, que sempre souberam acolher bem os baianos, a ponto de ninguém poder dizer com certeza se o tropicalismo é baiano ou paulistano. Mandei até uma sugestão, de que uma das primeiras ações do novo secretário deveria ser um encontro com a grande comunidade do samba paulistano.
E como vai a cultura em sua cidade, o Rio?
No Rio acontecem outras surpresas: uma pessoa de fora, o gaúcho Beltrame, impulsionou o projeto das UPPs. Por anos fui defender o funk e a possibilidade de realização dos bailes na Secretaria de Segurança - já que a Secretaria de Cultura nunca se pronunciava. Hoje, há uma nova era de projetos culturais. Bom sinal para a cidade, que agora, pós-tragédia em Santa Maria, terra do Beltrame, percebe como as coisas estavam descontroladas. Havia a tal da Resolução 013 que era sempre usada por policiais quando queriam fechar um baile. Tudo podia ser motivo: falta de saídas de emergência, banheiros, isolamento acústico, etc. Agora sabemos que mesmo os espaços culturais da prefeitura ou do Estado funcionavam contrariando regras de segurança. Por que só os bailes eram fechados?
E o carnaval? Nessa semana de exaltação e júbilo país afora, temos o que comemorar? 
Este carnaval é do sertanejo, do arrocha, do funk paulistano. Ela é Top, do paulistano MC Bola, é a música mais tocada no rádio em Salvador, com versão bem local. Essa é a brincadeira musical preferida atualmente: os sucessos ganham versões em todos os ritmos do momento. E os estilos se misturam. Quem diria que o sertanejo iria virar música de balada? Quem diria que Campo Grande, Mato Grosso do Sul, iria se transformar na capital do pop brasileiro? Eu não entendia muito bem o mundo do sertanejo. Até que fui numa festa de fundo de quintal, bem familiar, em Campo Grande. Uma dupla tocava canções que eu nunca ouvira antes e todo mundo fazia coro, com emoção tão explosiva quanto no momento mais animado do bumbódromo de Parintins. Foi minha rendição: gosto de pop fake, mas também não resisto diante da autenticidade. Naquele momento, gostei por motivos antropológicos, o que me encantava era o amor que aquelas pessoas sentiam por aquela música. Estava claro que algo grande iria acontecer dali. Hoje gosto também por motivos musicais. Mas há outro aspecto interessante nessa brincadeira, que é bem mais que música. Ninguém, nem mesmo o fã mais "inculto", acha que Ai se eu te Pego é um clássico de Tom Jobim. Aquilo é outra coisa: um mote para festa, para animação coletiva. Começou com uma cantoria de meninas paraibanas viajando para a Disney, virou refrão para animar turistas em Porto Seguro e depois forró em Feira de Santana. Michel Teló transformou o resultado em canção pop, que já foi apropriada em vídeos em todo o planeta, como Gangnam Style. O que importa aí é o processo, a diversão agora, o riso solto, e não a obra-prima para ser venerada como fuga de Bach. É preciso julgar as duas coisas com critérios diferentes.
O sr. parece otimista, mas há alguns dias o sambista Zeca Pagodinho criticou o carnaval no Rio, disse que 'tudo foi roubado' e não se vê mais nem enfeites nas ruas de periferia. Sambas-enredo falam de países distantes e cavalos manga-larga por exigência de patrocinadores. E até o elogiado renascimento dos bloquinhos de rua, em contraponto ao megashow mercantilizado do sambódromo, já é promovido por marcas de cerveja. A massificação põe em risco a riqueza da festa?
O carnaval é uma festa moderna, que cresceu mesmo a partir do final do século 19. O primeiro desfile de escola de samba aconteceu em 1929, e o patrocínio dos jornais foi importante para sua popularização e "oficialização". Antes era algo menor no calendário cultural do Rio. A grande festa da cidade era o Divino, que ocupava o Campo de Santana durante várias semanas. Desapareceu. Nem por isso o Rio deixou de ser o Rio. Tudo muda. E muitas novidades importantes têm origem em desrespeito a tradições. O baiano Hilário queria botar seu terno de Reis nas ruas cariocas. Notando que o 6 de janeiro não era dia de folia no Rio, resolveu sair no carnaval. Deu nos ranchos, nas escolas de samba e assim por diante. Se fosse fiel às regras tradicionais, a cultura da cidade hoje seria bem diferente. Eu adorava o carnaval no Centro do Rio no início dos anos 80. Cacique de Ramos e Bafo da Onça desfilavam gigantescos, empolgadíssimos. Aquilo foi minguando, melancolicamente. Houve ano que não escutei nenhum som de blocos na rua. Hoje há cada dia mais blocos, cada vez maiores. A garotada carioca, de todas as classes, voltou a ter no carnaval sua melhor festa. Você não gosta de blocos comerciais? Não se preocupe, há muitos outros que fogem do comércio. Neste ano vai ter até bloco que só canta marchinhas baseadas em tragédias gregas.
Há quem veja, no entanto, um empobrecimento nas manifestações artísticas de hoje, especialmente se lembrarmos do samba de raiz de Cartola e Pixinguinha, por exemplo. Não há em seu discurso uma certa correção política que impede a crítica?
Cito mais uma vez Gil: raiz para mim só de mandioca. Samba é música moderna, criada no início do século 20, inclusive com a invenção de instrumentos novos, como o surdo, criado a partir de tonéis industriais. Tudo muda, o tempo todo. Ficou mais pobre? A partir de que critério? Sei que o relativismo está fora de moda. Nem ligo: sou relativista incorrigível, cada vez mais radical. Constantemente me pego fazendo coro para Hêmon brigando com seu pai Creonte, em Antígona: "Guarda-te, pois, de te apegares a um só modo de pensar, crendo que o que dizes, e por seres tu que o dizes, exclui qualquer outra possibilidade de ver e sentir as coisas". Não tem quem me convença que há um fundamento estético único a partir do qual podemos decretar o empobrecimento ou o enriquecimento das criações humanas. Mas digamos que há: então encontro no funk muitos elementos que o tornam superior a uma sub-MPB que tentam me empurrar como música de qualidade. O tamborzão do funk salvou a música brasileira na virada do século 20 para o 21. É vanguarda mesmo, concretismo eletrônico afro-brasileiro. Mas para quem acha que hip hop não é música, ou que Stockhausen não é música, o que estou falando é delírio. Um consolo é saber que a produção da gravadora Motown um dia foi considerada por todos os críticos como lixo comercial sem futuro.
A que servem iniciativas suas como o programa Esquenta!, com Regina Casé? 
Antes de qualquer outra coisa queremos fazer uma boa festa. Nas gravações do programa, os momentos que mais nos agradam são quando a plateia assume o controle e viramos espectadores da farra coletiva. Como em qualquer outra festa boa, para isso acontecer é preciso reunir gente que pensa diferente e não tenha preconceito diante das diferenças. Reunião só com gente que pensa igual não tem graça.
O Brasil deveria apostar num programa de inclusão social pela cultura? 
Detesto a palavra inclusão por motivos que já comentei nas respostas anteriores: parece que a salvação do excluído - que não tem nada, é um vazio a ser preenchido por bom conteúdo - está na sua captura por um mundo que não é dele, não sua transformação em Outro. Partindo dessa premissa, a política cultural já seria de grande valor se não atrapalhasse o que já existe. O governo tem enorme dificuldade para criar e implantar política cultural. Mas política anticultural é corriqueira. Como a proibição dos bailes funk quando a música estava nascendo, empurrando-a para dentro de morros controlados pelo tráfico armado. O "funk proibidão" foi produto dessa ação anticultural do poder público.

A espacialização dos eventos culturais


Paulo Roberto Andrade de Moraes
A cultura como commodity passa a ser, assim, um ramo da economia muito promissor. Os eventos culturais tornaram-se um dos principais meios de lazer das sociedades cada vez mais urbanizadas e escolarizadas. E em grandes cidades como São Paulo não ocorrem de modo democrático, dada sua multicentralidade.
Entre 2007 e 2008 me debrucei em uma pesquisa com o propósito de contabilizar e espacializar os eventos culturais que ocorrem na cidade de São Paulo. Nesse período cataloguei, todas as sextas-feiras, os shows musicais, peças de teatros, filmes em cinemas e mostras específicas e exposições diversas. Para essa atividade, consultei o suplemento semanal de O Estado de S. Paulo, jornal de grande circulação que tem seus leitores principalmente nas classes A e B.
O resultado dessa pesquisa culminou em minha dissertação de mestrado em Geografia Humana, “A espacialização dos eventos culturais na cidade de São Paulo”. Muitos me perguntaram por que esse tema. Em primeiro lugar, sou um apaixonado por essa metrópole que tem uma forte identidade cultural, termo descrito por Mário J. Pires como “o conjunto de caracteres próprios e exclusivos de um corpo de conhecimentos, seus elementos individualizadores e identificadores; enfim, o conjunto de traços psicológicos, o modo de ser, de sentir e de agir de um grupo, que se reflete nas ações e na cultura material”.
Segundo o autor, a capital paulista não encontra uma definição dita correta para sua identidade cultural, “responsável pelo amor que seus cidadãos depositam em sua cidade e pelo consequente engajamento na tentativa de resolver os problemas que afetam toda a comunidade”. Deve-se atentar, porém, que toda essa diversidade de atrações que a cidade oferece, já elencadas, caracteriza-se pelo cosmopolitismo que São Paulo possui, isto é, um aglomerado de identidades, desde a verticalização (estudada em Maria Adélia Souza) até a miscigenação proporcionada pela migração de pessoas de diversos lugares, com diferentes costumes. “Com efeito, as atividades culturais ocupam um lugar privilegiado na construção de identidades coletivas, na medida em que se abrem a todos os cidadãos, congregando-os em referenciais comuns, trabalhando a relação entre o lugar e o universal”, escreve Eduardo Yázigi.
As diferenças culturais criadas em uma cidade como São Paulo facilitam a receptividade de pessoas externas a ela, pois as migrações anteriores (de nordestinos, italianos, japoneses, árabes, entre tantos outros) deixaram características na produção do espaço e no cotidiano – bairros com arquitetura típica, festas e costumes. São Paulo cresceu de uma maneira atípica em relação a outras cidades brasileiras. A vinda de pessoas de vários lugares trouxe um pouco da cultura de cada parte do mundo, seu desenvolvimento industrial (que garantiu dinheiro e infraestrutura à cidade) possibilitou o surgimento dessa metrópole que se apresenta. Metrópole essa que, graças ao capital acumulado e seu cosmopolitismo, desenvolveu uma atividade cultural muito diversificada para sua população.
Deve-se também ter a definição do que é lazer, que provavelmente não existe a contento de todas as áreas do saber – sociologia, antropologia, filosofia... Pode-se dizer que lazer é uma expressão do uso do tempo livre das pessoas, individualmente ou em grupo. Segundo Joffre Dumazedier, “o espaço de emergência de um grande número de práticas sociais, cada vez mais estereotipadas e variadas, cada vez mais sedutoras e ambíguas, que mesmo limitadas e determinadas, exercem crescente influência sobre o conjunto da vida cotidiana. Aqui se encontra a origem maior daquilo a que nos propomos chamar a revolução cultural de um tempo livre, em 90% constituído de atividade de lazer”.
Esse tempo livre vem de uma conquista recente – pouco mais de um século –, em que a jornada de trabalho foi reduzida consideravelmente. Para os trabalhadores brasileiros, caiu de 5 mil para 2.200 horas anuais, do começo do século 20 até os dias de hoje. Entre os do setor terciário (escritórios e bancos), mais ainda, cerca de 1.800 horas anuais, patamar atingido pelos operários europeus e americanos ao final da década de 1970, de acordo com Luis Camargo.
No início, esse tempo livre era utilizado em atividades recreativas com grande interferência de organizações como sindicatos e igrejas. Sua maior preocupação era manter a integridade dos operários para que pudessem voltar sãos ao trabalho na segunda-feira. O tempo livre também criou um dilema sobre seu uso, pois chegou-se a temer que as pessoas se tornariam egoístas em utilizar esse tempo somente para o próprio prazer, despreocupando-se do próximo, temor que acometeu principalmente a Igreja Católica.
O uso desse tempo livre que passamos a ter acabou por gerar desde momentos de relaxamento, espairecimento (como ler, ouvir música, conversar), até atividades como viagens, excursões e culturais (cinema, teatro, exposições, shows), movimentando milhões de dólares em todo o mundo. “A imprensa atual classifica o lazer como, antes de tudo, uma nova fonte de empregos”, aponta Dumazedier.
Grandes centros urbanos, como Nova York, São Paulo, Las Vegas, Londres, Paris, entre outros, destacam-se pela variedade em cartaz de peças, filmes, musicais, exposições. Esses eventos, em geral de grande porte, pois essas cidades os comportam, acabam sendo as principais opções de lazer e, muitas vezes, exclusivos, atraindo espectadores de outras localidades.
No entanto, vive-se um momento contraditório. O número de horas de trabalho se reduziu drasticamente, mas a impressão é de que nunca se trabalhou tanto. O enorme fluxo de informações, mercados globalizados e a difusão do meio técnico-científico-informacional fizeram com que a economia mundial, e consequentemente o trabalho, passasse a ocupar as 24 horas por dia.
Com a popularização da telefonia celular e da internet, um profissional pode receber orientações ou convocações numa tarde de domingo, por exemplo. Por mais que o horário comercial tenha sido reduzido nos dias úteis, as obrigações profissionais podem ocorrer a qualquer dia e horário. A alta competitividade leva as pessoas a se qualificar cada vez mais, com cursos de especialização após a graduação e também aos sábados, concorrendo com as horas da convivência em família e/ou de lazer.
Assim, apesar de não ter todo o tempo preenchido pelo trabalho, não se tem o tempo livre destinado ao lazer, atualmente. Em contrapartida, tantas novas obrigações aumentam o nível de estresse nas pessoas, tornando imperiosa a busca por opções de lazer.
Assim, as atividades e manifestações artísticas – denominadas muitas vezes somente de cultura, pelo senso comum –, tanto no lazer como na relação intelectual/profissional, acabam convertidas em produtos, principalmente nas sociedades urbanas, adquirindo importante peso na economia. De acordo com Paul Tolila, “pensar a economia do setor cultural é uma arma para a cultura. Uma arma de que o setor cultural deve se apossar para melhorar sua própria visão das coisas, defender suas escolhas e sua existência, participar de maneira ativa do seu desenvolvimento futuro”.
Segundo Adam Smith e David Ricardo, os ganhos nas artes contemplam apenas ao lazer e não contribuem para a riqueza das nações. Marx questionou as teorias de ambos em todo o segundo volume de O Capital, no qual tece teorias sobre a mais-valia. Escrito no século 19, o livro corrobora até hoje no tocante a venda e lucro referentes à força de trabalho. Cada vez mais, temos a produção cultural e os serviços como importantes setores da economia dos países. Arte, entretenimento e turismo (principalmente o histórico e o urbano) têm na cultura seu atrativo, gerando captação de recursos, gastos por consumidores desses produtos. Com isso, o setor cultural acaba por entrar no processo de produção, defendido por Marx, não como processo acabado de um bem material, mas um produto – serviço – tipicamente capitalista, no qual há emprego de mão e obra, lucro e salário (obviamente, com a mais-valia).
A concepção de que cultura transformou-se em produto é ratificada por David Harvey, ao classificá-la como commodity, agregando uma renda monopolista. “Os atores sociais podem aumentar seu fluxo de renda por muito tempo, em virtude do controle exclusivo sobre algum item, direta ou indiretamente comercializável, o que é, em alguns aspectos, crucial, único e irreplicável”, afirma o autor.
A cultura como commodity passa a ser, assim, um ramo da economia muito promissor. Os eventos culturais tornaram-se um dos principais meios de lazer das sociedades cada vez mais urbanizadas e escolarizadas. E em grandes cidades como São Paulo não ocorrem de modo democrático, dada sua multicentralidade. Como aponta Isaura Botelho, “é uma cidade desequilibrada, onde há uma baixa correspondência entre crescimento urbano e a distribuição dos equipamentos culturais. (...) A vida cultural da população não é feita pelas práticas legitimadas, aquelas com as quais se preocupam os gestores culturais que administram os equipamentos da cidade (...), mas sim pelo recurso a equipamentos e produtos da indústria cultural, sobretudo eletrônicos”.
De acordo com a pesquisa “Perfil socioeconômico e cultural dos paulistanos”, a distribuição da oferta dos eventos culturais divulgados no guia de O Estado de S. Paulo se concentra, basicamente, nos bairros do entorno dessas centralidades. Como bem registrado por Isaura Botelho e pela pesquisa Datafolha, a população residente nos bairros periféricos, muitas vezes por falta de opção, fica em casa assistindo à televisão ou ouvindo música. A acessibilidade aos programas culturais de lazer é condicionada em grande parte ao preço das atrações e à distância geográfica.
Pesquisa desenvolvida pelo Instituto Datafolha, entre fevereiro e julho de 2008, divulgada sob forma de livro, DNA Paulista, traçou o perfil da população paulistana em vários aspectos quanto a suas impressões da cidade. Nesse período foram entrevistadas 28.389 pessoas com 16 anos ou mais, residentes nas localidades avaliadas. Os resultados obtidos em cada um dos 96 distritos da cidade foram agrupados em oito regiões: norte, noroeste, oeste, centro, leste, extremo leste, sul e extremo sul.
Analisando a frequência de atividade de lazer, abordada na pesquisa, notei que os moradores que mais frequentam programas culturais são os da região oeste (cinema, teatro, shows/espetáculos, bares, restaurantes, viagens no fim de semana, clubes/academias de ginástica, jogos/eventos/competições esportivas e shopping centers), seguidos pelos moradores do centro (restaurantes, parques públicos e jardins) e da região sul (danceterias ou boates e viagens em fins de semana). Os moradores das regiões extremo leste e extremo sul são os que menos fazem programas culturais. A maioria frequenta esses eventos uma vez por ano, ou menos. Curioso notar que atividades como academias de ginástica, jogos e competições e passeios no shopping são consideradas de lazer pelos pesquisados.
Dados importantes dessa pesquisa se referem ao grau de escolaridade e renda dos paulistanos. Ao cruzar essas informações, pode-se deduzir que esses fatores desencadeiam o atual quadro, pois um depende de outro: quanto mais escolarizada uma pessoa é, mais crítica e exigente deverá ser, em tese, e terá maiores condições de obter uma melhor colocação profissional e bons rendimentos. Também tenderá a procurar bairros com melhores opções de infraestrutura e serviços para morar, diferentemente da que teve menos oportunidades de estudo, com baixo salário, obrigada a morar nos bairros periféricos da cidade, mais distantes de serviços e opções de lazer.
Diante do exposto, observa-se que a região oeste de São Paulo – onde se concentra, de acordo com a pesquisa, o maior número de pessoas que praticam alguma opção de lazer cultural – tem os moradores com maior escolaridade (38% com nível superior) e maior rendimento (8% ganham entre vinte e cinquenta salários mínimos e 2% mais de cinquenta, representando 14% dos moradores da classe A). O oposto é observado no extremo sul da cidade, em que a maior parte da população (37%) ganha até dois salários mínimos, assim como o maior número de pessoas com apenas o ensino fundamental concluído (47%).
Observando o mapa “Espacialização dos eventos culturais na cidade de São Paulo”, notamos que a maior concentração dos eventos culturais está nas regiões central, oeste e sul. O centro se justifica pela formação histórica da cidade e por agregar principalmente estabelecimentos mais antigos, como alguns teatros, antes de surgirem novas centralidades. Nas regiões oeste e sul, que abrigam a população de maior renda, a concentração desses estabelecimentos atende à demanda e tem o perfil costumeiro de consumo desses produtos.
Essa visão comercial renega uma potencial demanda existente nas regiões mais periféricas. Segundo o site Folha Online, consultado no dia 23 de dezembro de 2008, tanto a pesquisa “DNA paulistano”, realizada pelo DataFolha, como pesquisa realizada da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostram que em Itaquera, distrito do extremo leste da cidade, o lazer da população basicamente se resume a ouvir música e ver televisão. Revela ainda que 76% dos jovens divertem-se dentro de casa, mas gostariam de sair mais, principalmente para shows musicais. Itaquera possui 34% da população com renda até dois salários mínimos, mas mesmo assim há, segundo o site, 4% que se disporia a pagar mais de R$ 100 para assistir a um show de seu cantor favorito, se ocorresse no bairro ou muito próximo a ele.
Isso não quer dizer que não há opções de lazer na periferia. Esta apenas não foi priorizada, pois a fonte de pesquisa utilizada, o guia de O Estado de S. Paulo, não é direcionada a esse público, assim como constatei que não existe uma fonte impressa ou digital que abarque todos os eventos e em todas as regiões da cidade. Por esse motivo, na bibliografia consultada, não foi possível encontrar uma definição específica de “evento cultural”. Nas leituras realizadas aparecia de forma corriqueira, entendido como senso comum de um conjunto de atividades relacionadas à prática ou hábito de assistir a peça de teatro, filme no cinema, show musical – independentemente do gênero – e contemplar expressões artísticas como pintura e escultura.
O uso de uma fonte como o guia do Estadão criou uma espacialização direcionada a dois interesses. O primeiro é das pessoas de classe média e média alta, que, além do interesse, dispõem de recursos financeiros em seu orçamento para usufruir dos eventos culturais. Em segundo, os turistas, que em visita à cidade podem aproveitar a intensa vida cultural ou mesmo vir a São Paulo por essa razão.
Novamente, retoma-se a discussão de haver, por certo, outros eventos culturais na cidade, só não contemplados pela fonte referida porque não têm relevância para o perfil socioeconômico do usuário da fonte (jornal), assim como para os turistas.
A rica e diversa vida cultural confirma o cosmopolitismo da cidade e a demanda existente. O paulistano mostra-se um grande consumidor cultural, justificando o farto número de salas de teatros, cinemas, museus e locais para realização de shows musicais. Nota-se também que o consumo de entretenimento caracteriza-se sobretudo nos gêneros mais populares – música pop, rock, MPB, cinema comercial. Isso vai ao encontro de pesquisas internacionais em diversos países.
Há uma demanda para a arte erudita e uma territorialidade muito restrita desse segmento, basicamente o Teatro Municipal, no centro, a Sala São Paulo, em área central, porém com seu entorno muito degradado, e o Auditório do Parque do Ibirapuera.
Pode-se concluir que a arte erudita apresenta uma característica elitista, provocada, principalmente, pela falta de informação da população. Reflexo da pouca instrução recebida na vida escolar e de poucas oportunidades de acesso a esse tipo de arte. Nesse caso, acesso significa criação do hábito, transmitido pela família e pelo círculo de convivência. A maioria da população apresenta uma característica passiva como receptora de informação, tendo a televisão como principal fonte. Esse meio de comunicação vive da audiência para justificar seus ganhos publicitários, e mais do que nunca as expressões artísticas efêmeras ganham maior espaço na mídia, tornando ainda menor o interesse em investir na disseminação cultural agregadora em longo prazo.
Com referência à espacialização dos eventos culturais, percebe-se a concentração deles nos bairros de maior poder aquisitivo, como já dito, justamente pela lógica de neles existir a demanda com potencial de consumo, nesse caso de usufruí-los. Nota-se que a territorialidade do mapa turístico oficial de São Paulo está contida na área do mapa dos eventos culturais elaborado para esse trabalho. Isso significa que o próprio poder público trabalha com uma espacialização delimitada da cidade.
E é nessa área que a cidade de São Paulo dos eventos culturais acontece. Rica diversidade torna-se um fator econômico importante e um atrativo turístico. Também por sua escala, a metrópole apresenta condições de organizar eventos de grande porte que cidades, estados e até países vizinhos não comportam, atraindo milhares de pessoas de outras localidades, que usufruem de uma rede de equipamentos – hotéis, lojas, restaurantes, livrarias, transporte –, fomentando a economia local e colaborando na geração de empregos e arrecadação de impostos.
Evidentemente, nem todas as áreas da cidade são turísticas e autossuficientes na infraestrutura. Não há a necessidade de existir um cinema, um teatro ou casa de shows em cada bairro. Existe uma hierarquia de serviços, como em qualquer cidade. A raridade de certos equipamentos se justifica pela produção histórica e territorial do município. A infraestrutura de serviços, principalmente de transporte, deveria satisfazer a população para deslocamento entre bairros. Infelizmente, o sistema viário e o transporte público são problemas estruturais graves em São Paulo, o que faz com que pessoas percam horas desnecessárias no trânsito, gerando prejuízos econômicos e na qualidade de vida.
Devemos ter como premissa a questão da qualidade das cidades para seus habitantes em primeiro lugar, pois só assim se cria uma excelência em serviços que poderá, como consequência, atrair turistas. A questão dos deslocamentos é uma das maiores críticas da população local e em pesquisas aferidas com turistas, por órgãos como a SPTuris, se mostrou como grave defeito para os visitantes.
Para finalizar, espera-se que este estudo contribua para a confirmação de que os eventos culturais se apresentam como mais uma e forte identidade de São Paulo, promovendo o enriquecimento intelectual da população, assim como no lazer, melhorando a qualidade de vida. Essa identidade é não só reconhecida como também um atrativo turístico que dinamiza uma rede de serviços, com grande importância econômica.

Paulo Roberto Andrade de Moraes é mestre em Geografia Humana pelo Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

Referência bibliográficas
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BOTELHO, Isaura; FIORE, Maurício. “O Uso do Tempo Livre e as Práticas Culturais na Região Metropolitana de São Paulo”. Disponível aqui. Acesso em 14/5/2008
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SOUZA, Maria Adélia. “Produção e apropriação do espaço metropolitano: a Avenida Paulista em São Paulo”. In: SANTOS, M. et al. A Construção do Espaço. São Paulo: Nobel, 1986.
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YÁZIGI, Eduardo. Esse Estranho Amor dos Paulistanos: Requalificação Urbana, Cultura e Turismo. São Paulo: Global Editora, 2006.
http://www.teoriaedebate.org.br/materias/cultura/espacializacao-dos-eventos-culturais?page=full

Quatro temas da política cultural e a arte das periferias

06.02.13 AÇÃO EDUCATIVA http://www.acaoeducativa.org.br/index.php/cultura/80-cultura/10004623-artigo-quatro-temas-da-politica-cultural-e-a-arte-das-periferias-Por Eleilson Leite*
I – O salto da política de governo para uma política de Estado
A gestão Gil-Juca no governo Lula elevou a cultura a um patamar de política pública abrangente, articulada e participativa, algo jamais alcançado pelo Ministério da Cultura desde sua criação, em 1985. Passada essa etapa, o órgão, bem como as instâncias estaduais e municipais de cultura, se veem diante do desafio de estruturar e efetivar uma política de Estado . Essa envergadura política se dará pela efetivação do Sistema Nacional de Cultura que, por sua vez, é sustentado pelo Plano Nacional de Cultura, ambos aprovados pelo Congresso Nacional.
O Plano já tem metas estabelecidas e todo o procedimento de orientação para sua estruturação em nível local. Caberá aos municípios, além de elaborar um Plano Municipal de Cultura, criar um conselho e um fundo. Feito isso, a cidade pode aderir ao Sistema e assim acessar recursos federais, como acontece nas áreas de educação, saúde, trabalho e tantas outras. Dessa forma, a cultura no Brasil finalmente alcançará uma estrutura em termos de política que abrirá às organizações culturais, sejam elas governamentais ou não governamentais, companhias artísticas, produtoras culturais e movimentos sociais de cultura uma perspectiva de atuação num cenário político definido por um marco legal, no qual as regras estão asseguradas para além das motivações das gestões governamentais.
A eficácia do Sistema, no entanto, depende da adesão dos estados e municípios e isso não é uma operação simples.  É uma tarefa política gigantesca e complicada e que exigirá do MinC uma liderança política muito forte. Além disso, há outra condicionante fundamental que é a necessidade de aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 150, que estabelece o padrão orçamentário para a cultura, definindo o patamar de 2% para a União; 1,5% para os estados e 1% para os municípios. Assegurando em lei um coeficiente orçamentário como ocorre há décadas com a educação, a equação do Sistema Nacional de Cultura pode ser resolvida. A garantia do acesso a recurso é sempre um dado de viabilidade fundamental. Nesse sentido, há também outro Projeto de Lei em tramitação que corroborará um aporte de recurso mais robusto para a cultura. Trata-se do Pró-Cultura, projeto que altera a atual Lei Rouanet, estabelecendo novas bases para o mecenato feito à base de incentivo fiscal .
Criadas todas as normativas, fica ainda a dificuldade burocrática para os municípios efetivarem a sua adesão. No Brasil, apenas 15% das cidades têm secretarias de cultura, o que equivale a cerca de 1.100 municípios. Na grande maioria das cidades brasileiras, as instâncias municipais de cultura estão vinculadas às secretarias de educação, esporte, turismo e assistência social, ou são atribuição da primeira dama. Dedicam-se a organizar os eventos municipais oficiais, festas juninas, desfiles, Natal, entre outros festejos. Não há equipe técnica capacitada o suficiente para implementar as bases locais do Sistema Nacional de Cultura. Mas, em sendo implantado, o Sistema abrirá uma grande possibilidade de criar nessas localidades uma política de cultura mais consistente. Será um grande avanço. Neste sentido, organizações do movimento cultural periférico têm aí uma importante frente de atuação. Podem tanto atuar na efetivação dos planos municipais de cultura como também nos planos municipais do livro e da leitura, outro marco legal definido recentemente, cuja implementação no nível local está muito abaixo das expectativas, por falta de visão dos municípios e da crônica deficiência técnica da gestão municipal.
II – Os editais entre o produto e o processo
Os artistas, companhias, grupos e movimentos culturais estão tendo cada vez mais possibilidades de acesso a recursos para viabilizar seus projetos via editais públicos. Nas três esferas de governo, as oportunidades se multiplicam. Embora muito longe de atenderem à demanda, esses editais não podem ser desprezados; pelo contrário. E o movimento cultural, de periferia está atento a isso, não só acessando, como implementando lutas visando a sua ampliação e melhor adequação aos interesses dos artistas periféricos. Prova disso é a ampliação do VAI , em São Paulo, e do PROAC , do estado de São Paulo, que abriu mais três linhas de apoio, entre elas, Sarau Literário e Cultura Negra, atendendo antiga reivindicação do movimento cultural periférico. Já em nível federal, depois de um período de estagnação da política cultural durante os 20 meses em que a ministra Ana de Hollanda esteve à frente da Pasta, a nova gestão, sob o comando da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, retomou os editais, criando inclusive uma série deles direcionado exclusivamente a proponentes negros.
Cabe ainda nessa questão do fomento via editais a ampliação de possibilidades de investimento de médio e longo prazo, como é o caso dos Pontos de Cultura (três anos) e as leis de fomento da cidade de São Paulo (cinema, dança e teatro), que duram dois anos. Editais como o VAI e o PROAC destinam-se à elaboração de produtos culturais (espetáculos, CDs, livros, exposições), enquanto que os dois exemplos anteriormente citados privilegiam a manutenção de grupos e organizações. Há uma proposta sendo discutida, elaborada por Pablo Ortellado e Luciana Lima, que propõe a criação do Bolsa Cultura. Trata-se de um apoio público de dois anos através de pagamento mensal a artistas e grupos nos moldes das bolsas de pesquisa dos programas de pós-graduação. O beneficiário desta bolsa não precisaria necessariamente elaborar um produto, mas teria que desenvolver, ao longo do período de subvenção, progressos conceituais e artísticos referente a sua prática (aperfeiçoamento musical, cênico, literário, etc). É uma forma interessante, que poderia ajudar em muito o desenvolvimento artístico dos agentes culturais, sobretudo os de periferia que, na maioria, não tiveram oportunidade de aprofundamento artístico. O Prefeito Fernando Haddad assumiu o compromisso de adotar esta proposta enquanto era candidato e o Secretário Municipal de Cultura, Juca Ferreira, já ratificou a promessa de campanha. Será a grande janela de oportunidade para os artistas periféricos. Essa ação, somada ao VAI, vai dar o que falar, cantar, dançar, filmar, pintar nas quebradas de São Paulo e depois, quiçá, em todo o País.
III - A cultura na agenda social e a emergência dos  arte-educadores
Nos últimos dois anos, ganhou força no Governo Federal e no Estado de São Paulo a visão de que a cultural é um instrumento importante de ação social. Durante o curto período em que ocupou o Ministério da Cultura, Ana de Hollanda articulou suas poucas iniciativas à agenda social do Governo. Encampou as Usinas de Cultura, ideia gestada no Conselho de Direitos e Cidadania da Secretaria Geral da Presidência, uma iniciativa que tem como foco segmentos vulneráveis da sociedade, como jovens, especialmente a juventude negra.  Ficou responsável pelas praças do PAC (praças dos esportes e da cultura), uma ação do Ministério do Planejamento.  Criou o + Cultura + Educação, programa que atende às demandas de cultura do Ministério da Educação no Programa desta Pasta chamado Mais Educação. Ou seja, o MinC foi a reboque das outras políticas governamentais, rebaixando a cultura como protagonista, colocando-a como um subproduto de ações cujo objetivo têm outro foco que não a promoção e garantia de acesso à cultura. A ex-prefeita Marta Suplicy já mudou a postura do Ministério, mas manterá essas ações, dando uma marca própria aos projetos, como no caso das Praças do PAC, que passarão a se chamar CEUs do PAC, numa referência clara aos Centros de Educação Unificados que ela criou durante sua gestão na Prefeitura de São Paulo.
Já no estado de São Paulo, a aproximação da cultura com a assistência social se dá por opção deliberada da Secretaria de Cultura e não por uma questão de submissão e falta de política própria. Está sob responsabilidade da Secretaria Estadual as Fábricas de Cultura, que são estruturas de grande porte, altamente equipadas  e com razoável dotação orçamentária. Esses espaços visam atender a crianças, adolescentes e jovens até 19 anos em áreas de vulnerabilidade social na cidade de São Paulo. São nove Fábricas, sendo que até 2012 cinco delas já estavam em funcionamento, todas em áreas da periferia paulistana. Esse projeto das Fábricas de Cultura tem o apoio do Banco Mundial e é visto como uma das prioridades da atual gestão do Governo do Estado.
Tanto em um caso como no outro, não obstante o prejuízo da noção de direito à cultura, face ao acesso focalizado ao invés de universalizado, abre-se um campo de trabalho muito vasto para arte- educadores. Todas essas estruturas necessitarão de artistas educadores que saibam transmitir seus conhecimentos artísticos numa dinâmica de ensino aprendizagem baseada em noções práticas, ou seja, oficinas. Somente as Fábricas de Cultura contrataram cerca de 300 arte-educadores.  Podemos somar à demanda por arte-educação a Fundação Casa, que só no estado de São Paulo contrata cerca de 500 profissionais, além das tradicionais Oficinas Culturais - um programa que existe desde a década de 1980 -, entre outras oportunidades, criando um amplo contingente de profissionais atuantes. Grande parte deles são artistas com dificuldades de se manterem através de sua atividade artística e que dão oficinas para garantir sua renda. Ou seja, trata-se de um segmento de educadores que merece uma atenção muito especial das gestões públicas, dada sua relevância tanto profissional quanto cultural e artística.
IV – Ampliação do consumo cultural e o desenvolvimento artístico
Nos últimos dias do ano de 2012, foi sancionada pela Presidente Dilma Rousseff a Lei do Vale Cultura, projeto que tramitava no Legislativo desde 2009. Tal medida dará ao trabalhador que recebe até cinco salários mínimos (cerca R$ 3.390,00) um bônus de R$ 50,00 para gastar em produtos culturais (shows, cinema, livros, revistas, teatro, etc.).  Essa medida injetará cerca de R$ 5 bilhões no consumo de cultura, cinco vezes mais do que o Governo Federal dispensa de Imposto de Renda das empresas com incentivo fiscal. Será uma revolução que ampliará significativamente o mercado, abrindo, consequentemente, muitas oportunidades paras os artistas se apresentarem, venderem seus livros, discos, filmes e tudo o mais. É fundamental aqui ações em favor do desenvolvimento artístico da produção cultural periférica, pois para se beneficiar dessa significativa ampliação do mercado, os artistas periféricos, pelo menos os que assim desejarem, terão que investir na qualificação estética de suas produções para se manterem ativos na cena cultural. O Bolsa Cultura, citado anteriormente, responde em boa medida a essa demanda.
Junto com o Vale Cultura, há um incremento significativo na ampliação de espaços culturais, sejam públicos ou privados. Tomando São Paulo como referência, tivemos nos últimos três anos a criação da Escola de Teatro de São Paulo; Biblioteca São Paulo, erguida no terreno do Antigo Carandiru; Paço das Arte, com o conservatório musical do Município; Pavilhão das Culturas Brasileiras; e reforma de inúmeros equipamentos, como Biblioteca Mario de Andrade, Teatro Municipal e Centro Cultural São Paulo. Enquanto isso, o SESC não cessa de abrir novas unidades, empresas criam centros culturais e assim a cidade consegue atingir marcas notáveis como mais de 300 peças de teatro em cartaz por mês na alta temporada.
O movimento cultural da periferia não pode ficar fora dessa pujante cena cultural e para isso não bastará apenas afirmação política da origem periférica para ganhar espaço. Será necessário mostrar que a periferia tem uma estética própria e uma produção artística de qualidade, que merece ser prestigiada. Mas para isso terá que se gabaritar e meios para isso existem, como foi aqui demonstrado. A hora é agora.
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[1] O MINC durante o período de 2003 a 2010 realizou duas conferências nacionais de cultura; aprovou o Plano Nacional de Cultura no Congresso e criou os Pontos de Cultura que somam atualmente cerca de 3200 instituições assim reconhecidas, ente outras iniciativas. Esta Gestão formulou e executou uma política abrangente que via a cultura em suas três dimensões: simbólica, cidadã e econômica.
[2] O Plano Nacional de Cultura foi aprovado em dezembro de 2010 enquanto o Sistema foi homologado pelo Senado em outubro de 2012 e aguarda sansão presidencial.
[3] Além de alterar o padrão de incentivo criando cinco faixas de incentivo que vão de 30% a 90%, eliminando o incentivo de 100%, criará diversos fundos para os quais será possível repassar recursos e não somente a projetos e terá mecanismos que estimulará apoios a projetos fora do Eixo Rio São Paulo, entre outras medidas.
[4] Valorização de Iniciativas Culturais, Programa da Prefeitura de São Paulo que repasse R$ 20.000,00 a coletivos jovens, preferencialmente das periferias. O Vai em 2012  apoiou 180 projeto contra os 140 apoiados no ano anterior.
[5] Programa de Ação Cultural, ação de fomento via edital que tem 35 linhas de apoio.
* Antonio Eleilson Leite é coordenador da área de Cultura da Ação Educativa, historiador, programador cultural e colaborador do site Outras Palavras

Comunicações e mesas do III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE POLITICAS CULTURAIS


Artigos apresentados no III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE POLITICAS CULTURAIS, ocorrido em 2012, para download e leitura. Para acessar as inúmeras contribuições, clicar no link abaixo.

http://culturadigital.br/politicaculturalcasaderuibarbosa/2012/09/22/artigos-do-iii-seminario-internacional-de-politicas-culturais/

Boas leituras.

Encontro Internacional - Formação em Gestão Cultural

Série de Palestras promovidas pelo SESC de São Paulo sobre Formação em Gestão Cultural. O Encontro tem entre seus objetivos discutir a formação para a gestão cultural na atualidade, abordando o tema sob variadas perspectivas e apresentando experiências relevantes de aprendizagem e pesquisa. Para tanto foram convidados a participar representantes de universidades e instituições de diversos países da América Latina e Europa, que possuem cursos na área em questão, oferecendo um panorama atual do ensino e formação para a gestão cultural. Foi realizado no SESC Vila Mariana.

Abertura Professor Danilo Santos de Miranda, diretor regional do SESC em São Paulo.


Painel 1 Mediador JOSE CARLOS DURAN ANGEL MESTRES (ES) - Mestrado em Gestão Cultural -- Universidade de Barcelona. PAULO CESAR MIGUEZ (BR/BA) - Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade -- Universidade Federal da Bahia.


Painel 2 Mediadora ÉRICA TRINDADE DUTRA ANDREA FANTONI (UY) - Centro Latinoamericano de Economía Humana - CLAEH. DENNIS DE OLIVEIRA (BR/SP) - Especialização em Gestão de Projetos Culturais e Organização de Eventos CELACC - Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação Universidade de São Paulo - USP. KÁTIA DE MARCO (BR/RJ) - Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão Cultural - Universidade Candido Mendes - UCAM.


Painel 3 Mediador OSWALDO FERREIRA JUNIOR ALFONSO MARTINELL SEMPERE (ES) - Universitat de Girona/Catedra UNESCO. JOSÉ TEIXEIRA COELHO (BR/SP) - Observatório Itaú Cultural - Curso de Especialização em Gestão Cultural. ROBERTO GUERRA (CL) - Escuela de Gestores y Animadores Culturales - EGAC.


Painel 4 Mediador MILTON SOARES DE SOUZA FERNANDA DELVALHAS PICCOLO (BR/RJ) - Curso Superior de Tecnologia em Produção Cultural - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro - IFR. ANDREA COSTA (BR/RN) - Graduação Tecnológica, Tecnologia em Produção Cultural - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN.


Painel 5 Mediadora ANDREA NOGUEIRA SOLEDAD GALHARDO e GLEY FABIANO CARDOSO XAVIER (BR/SP) - Especialização em Gestão Cultural: Cultura, Desenvolvimento e Mercado - Departamento de Comunicação e Artes - SENAC. JOSÉ LUIS MARISCAL OROZCO (MX) - Instituto de Gestión del Conocimiento y del Aprendizaje en Ambientes Virtuales - Licenciatura en Gestión Cultural.


 Painel 6 Mediadora ROSANA PAULO DA CUNHA LAURA ROMERO (AR) - Facultad de Arquitectura, Urbanismo y Diseño Universidad Nacional de Mar del Plata - Tecnicatura en Gestión Cultural. LUIZ AUGUSTO (BR/RJ) - Graduação em Produção Cultural - Universidade Federal Fluminense - UFF.


 Painel 7 Mediadora MARTA COLABONE ISABEL BABO-LANÇA (PO) - Pós-Graduação em Comunicação e Gestão Cultural (Universidade Lusófona do Porto) (mantém) URSULA RUCKER (AR/Buenos Aires) - Presidente da Associação de Gestores Culturais da República Argentina - AgeCultuRA.(mantém) JOSÉ ALEJANDRO TASAT (AR) - Professor e Coordenador de Gestão e Articulação Acadêmica da Universidade Nacional Três de Fevereiro - UNTREF.

Divulgado calendário do IX Enecult


Há oito anos consecutivos o Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT) em conjunto com o Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (Pós-Cultura), o Instituto de Humanidades, Artes & Ciências Professor Milton Santos (IHAC), a Faculdade de Comunicação (Facom), e a Universidade Federal da Bahia (UFBa), realizam os Encontros de Estudos Multidisciplinares em Cultura, em Salvador (Bahia).
Além das palestras e mesas redondas o ENECULT também promove a interlocução entre centenas de pesquisadores, professores, estudantes universitários e profissionais vinculados ao campo cultural, através da exposição de estudos em cultura realizados no país e na Ibero-América, nas mais diversas áreas do conhecimento.

Calendário 2013
Dias do evento: 11, 12 e 13 de setembro de 2013
Submissão dos textos e propostas de mesas redondas: 1º a 30 de abril de 2013
Avaliação: 1º a 31 de maio de 2013
Divulgação do resultado: 7 de junho de 2013
Inscrições/pagamento: 10 de junho a 10 de agosto de 2013
Mais informações em: www.enecult.ufba.br